A carreta de boi
sexta-feira, agosto 09, 2019
A carreta ou carro de boi é um dos mais primitivos
e simples meios de transporte, tendo sido muito utilizado no Rio Grande do Sul.
Desde as origens da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul até a chegada
do trem e do automóvel, o Estado andou a reboque dos carros de boi.
Conhecida como “boeiro” em Portugal, “cambona” em
algumas regiões do interior do Brasil, o carro de boi e “carreta” nos pampas
gaúchos já era conhecido dos chineses e hindus. Também os egípcios, babilônios,
hebreus e fenícios utilizavam o transporte “via bois”. Mais tarde, os europeus,
quando se lançaram à colonização da África e da América, fizeram do boi um item
indispensável da carga das caravelas.
Imagem do filme O Tempo e o Vento. |
Tomé de Sousa, primeiro governador-geral do Brasil,
trouxe consigo carpinteiros e carreiros práticos, e, em 1549, já se ouvia o
“cantador” nas ruas da nascente cidade de Salvador/BA. A presença do carro de
boi também é mencionada no “Diálogo das Grandezas do Brasil”, de Ambrósio
Fernandes Brandão: “É necessário que tenha (…), 15 ou 20 juntas de bois com
seus carros necessários aparelhados (…) ”, e mais adiante, “A vaca, sendo boa,
é estimada a (…), e o novilho, que serve já para se poder meter em carro, a
seis e a sete mil réis (…) ”.
Nos primeiros tempos da colonização, além de manter
em movimento a indústria açucareira da roça ao engenho, do engenho às cidades,
o carro de bois mobilizou a maior parte do transporte terrestre durante os
séculos XVI e XVII. Transportavam materiais de construção para o interior e
voltavam para o litoral carregados com pau-brasil e produtos agrícolas
produzidos nas lavouras interioranas. No Brasil colonial, além dos fretes, o
carro de bois conduzia famílias de um povoado para outro muitas vezes
transformado em “carro-fúnebre” e os carreiros precisavam lubrificar os
“cocões” para evitar a cantoria em hora imprópria.
No início do século XVI, o carro de bois era ainda
absoluto no transporte de carga e de gente. No Sul, no Centro, no Nordeste, era
indispensável nas fazendas. No Rio Grande do Sul, as carretas conduziam para a
Argentina e para o Uruguai a produção agrícola. Foi utilizada durante a guerra
dos farrapos, no transporte também das mulheres, feridos e de armamento. Na
Guerra do Paraguai, os carretões transportaram munições, mantimentos e serviram
ainda como ambulâncias.
Em meados do século XVIII, entretanto, com o
aparecimento da tropa de burros, o carro de bois perdeu sua primazia. Mais leves
e mais rápidos, os muares não exigiam trilhas prévias e terrenos regulares. No
final do século, vieram os cavalos para puxar carros, carroças e carruagens, e
o carro de bois foi proibido por lei de transitar no centro das cidades,
ficando o seu uso restrito ao meio rural.
Os veículos motorizados aceleraram o processo de
decadência do carro de bois no Brasil, na Argentina, em Portugal, na Espanha,
na Grécia, na Turquia, no Irã, na Indonésia e na Malásia. Contudo, em todos
esses lugares, artesãos continuaram a construí-los e a aperfeiçoá-los e, graças
a essa gente, o carro de bois persiste na sua marcha pela história.
As carretas riscaram os primeiros caminhos do
pampa, ajudaram a fundar cidades e abastecer bolichos. Transportaram
mantimentos em tempos de paz, armas em períodos de guerra, sempre ao passo
vagaroso do gado. Em solo gaúcho, as razões para o abandono da carreta incluem
a lentidão do gado e as agruras da viagem, que sujeitam o condutor a
intempéries, a dormir e comer ao relento, sem banho ou troca de roupa.
Hoje, um dos mais tradicionais meios de locomoção
do gaúcho está em extinção, mas permanece nas memórias do nosso Pampa.
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