Bugio: o único ritmo genuinamente gauchesco
terça-feira, abril 23, 2019
De
todos os estilos musicais da música gaúcha, o único estilo 100% gaúcho é o
bugio. Aqui no blog Repórter Riograndense vamos fazer uma breve explanação
sobre o surgimento deste que é o único ritmo parido em nossa terra, ou seja, o
Bugio.
Segundo
o dicionário da língua portuguesa, bugio significa uma espécie de macaco. Tal
animal seria oriundo da Argélia, mais precisamente da cidade de Bugia, que leva
o nome por dizer-se o berço do citado primata. Figurativamente chama-se de
bugio o indivíduo feio, desengonçado, que imita os outros. Macaqueador.
Uma
característica marcante dos bugios é a presença do osso hióide (gogó) muito
desenvolvido nos machos, que atua como câmara de ressonância e amplificação,
conferindo a esses animais uma vocalização ímpar e mais acentuada, quando o
tempo está para chover. Segundo os mais antigos “se o bugio roncou no mato, é chuva grossa de fato” e nenhum
campeiro saía para suas lides sem a capa na garupa.
Pois
foi para imitar esse ronco que surgiu como o único ritmo genuinamente gauchesco,
visto que todos os outros como a vaneira, xote, valsa entre outros são “importados”. A eterna e inútil
discussão é onde surgiu o ritmo. Alguns historiadores dizem que foi em São
Francisco de Assis, através do gaiteiro Neneca Gomes. Outros, como Os Bertussi,
defendem que a origem do balanço sincopado apareceu pela primeira vez lá pelas
bodegas do Juá, em São Francisco de Paula, através do gaiteiro Virgílio Leitão.
O
pesquisador e folclorista Paixão Côrtes considera que é muito perigoso precisar
o nascedouro do gênero musical característico do Rio Grande e que deve ter sido
bem depois da Guerra do Paraguai, pois em pesquisas discográficas da época do
gramofone, entre o período de 1913 a 1924, nunca aparece o gênero bugio.
Em
defesa de sua tese, o folclorista alega que em “gaita de botão”, por ser de “voz
trocada”, isto é, abre num tom e fecha em outro diferente, não se pode
realizar o “jogo-de-foles”, que
caracteriza a imitação do primata, recurso só obtido em gaita pianada, que
aparece por estas bandas mais ou menos ao findar da guerra com o país vizinho.
O
que se sabe, e isto está provado por registros fonográficos, é que foram os
Irmãos Bertussi os primeiros a gravar em disco o ritmo bugio, com a música “Casamento da Doralice” no LP Coração
Gaúcho.
E
foi Adelar Bertussi, mais recentemente, que apresentou uma pesquisa intitulada “O Bugio na Mulada”, onde retrata o
aparecimento do ritmo em sua terra natal, no interior de São Francisco de
Paula. Segundo suas observações, fruto de diversas entrevistas, o gênero já era
dançado na região serrana, antes de 1918, pelos bugres descendentes dos índios
caingangues que habitavam as encostas do Rio das Antas e os tropeiros birivas
açorianos.
Conta-se
que, tal qual o tango argentino que foi parido na zona portuária de Buenos
Aires e, inicialmente, era proibido de ser executado nos salões nobres por ser
considerado um ritmo degradante pois permitia aos dançarinos um “roça-roça” inconcebível para a época, o
bugio também só era retrechado nos bailes de ralé onde o cheiro da canha, o
lusque-fusque das lamparinas e o perfume de baixa qualidade faziam parceria
para o embalo que tomava conta dos bailões de fundo de campo. Seu compasso
sincopado convidava aos bailarinos dançarem meio acotovelados e imitando os
passos do bicho bugio.
Uma
das características deste animal está relacionada com as suas reações ante uma
adversidade, quando ele excreta e lança as fezes sobre seus adversários, ou
seja, sua arma é seu esterco. Por esses motivos, quando gente de baixo quilate
discute asperamente, as pessoas mais experientes aconselham: – não te mete, isto é briga de bugio!
Te
aprochega e confira o grupo Os Serranos interpretando a música Bugio do Rio Grande, para entender esse
estilo autenticamente gaúcho:
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