Negrinho do Pastoreio
domingo, outubro 04, 2015
A lenda do Negrinho do Pastoreio é uma lenda meio cristã e
meio africana. É uma lenda muito popular no sul do Brasil e sua origem é do fim
do Século XIX, no Rio Grande do Sul. Foi muito contada no final do século
passado pelos brasileiros que defendiam o fim da escravidão. É uma lenda
reconhecidamente do Rio Grande do Sul, e alguns folcloristas afirmam que a
região tem uma única lenda sua, criada ao jeito local.
Conta a lenda que nos
tempos da escravidão, havia um estancieiro malvado com negros e peões. Em um
dia de inverno, fazia muito frio e o fazendeiro mandou que um menino negro de
quatorze anos fosse pastorear cavalos e potros que acabara de comprar.
No final do tarde, quando o menino voltou, o estancieiro
disse que faltava um cavalo baio. Pegou o chicote e deu uma surra tão grande no
menino que ele ficou sangrando. Disse o estancieiro: "Você vai me dar
conta do baio, ou verá o que acontece". Aflito, o menino foi à procura do
animal. Em pouco tempo, achou o cavalo pastando. Laçou-o, mas a corda se partiu
e o cavalo fugiu de novo.
De volta à estância, o
estancieiro, ainda mais irritado, bateu novamente no menino e o amarrou nu,
sobre um formigueiro. No dia seguinte, quando ele foi ver o estado de sua
vítima, tomou um susto. O menino estava lá, mas de pé, com a pele lisa, sem
nenhuma marca das chicotadas. Ao lado dele, a Virgem Nossa Senhora, e mais
adiante o baio e os outros cavalos. O estancieiro se jogou no chão pedindo
perdão, mas o negrinho nada respondeu. Apenas beijou a mão da Santa, montou no
baio e partiu conduzindo a tropilha.
A partir disso, entre os andarilhos, tropeiros, mascates e
carreteiros da região, todos davam a notícia, de ter visto passar, como levada
em pastoreio, uma tropilha de tordilhos, tocada por um Negrinho, montado em um cavalo
baio.
Desde então, quando qualquer cristão perdia uma coisa, fosse
qualquer coisa, pela noite o Negrinho procurava e achava, mas só entregava a
quem acendesse uma vela, cuja luz ele levava para pagar a do altar de sua
madrinha, a Virgem, Nossa Senhora, que o livrou do cativeiro e deu-lhe uma
tropilha, que ele conduz e pastoreia, sem ninguém ver.
Quem perder coisas no
campo, deve acender uma vela junto de algum mourão ou sob os ramos das árvores,
para o Negrinho do pastoreio e vá lhe dizendo: "Foi por aí que eu perdi...
Foi por aí que eu perdi... Foi por aí que eu perdi...". Se ele não achar,
ninguém mais acha.
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