O MTG e a morte do gaúcho
sábado, maio 24, 2014
Crônica
"Enquanto o
Movimento Tradicionalista Gaúcho discute a beleza em seus concursos, proíbe o
uso de boina ou define por decreto quantos milímetros uma peça de roupa precisa
para ser gaúcha, a verdadeira cultura gaúcha morre aos poucos. Essas discussões
ridículas no centro das atenções são sintomáticas do que está acontecendo: ou o
MTG se reinventa ou vai matar o gaúcho riograndense.
No último fim de
semana, os principais jornais do Rio Grande estamparam notícias sobre a
importantíssima discussão dentro do MTG, se a beleza como critério de escolha
da primeira-prenda deveria ser abolida. Para a maioria dos riograndenses,
trata-se da falta do que fazer de alguns extraterrestres e que nada tem a ver
com a vida deles.
Por causa deste
rapto do gauchismo que ser gaúcho, hoje, tornou-se um capricho de gente de
classe média ou alta que pouco se identifica com os valores gaúchos
tradicionais, mas que no fim de semana se fantasia conforme o MTG manda e sabe
de cor meia dúzia de coisas de pouca utilidade. A maioria absoluta da população
riograndense pensa que gaúcho é quem nasce no Rio Grande do Sul.
Devido ao seu
engajamento político a favor dos vencedores, o MTG tenta esconder a todo o
custo nossa origem platina, que é justamente o que nos faz diferentes. Tem
problema com a boina e com o chiripá (e com a camisa de manga curta e com o
lenço de outra cor, etc.), mas parece não estar nem um pouco preocupado com o
fato de o riograndense ser cada vez menos gaúcho, de nossas festas tradicionais
serem substituídas pelas brasileiras, de o gaúcho riograndense não saber que
não é o único no mundo e de quase todos os habitantes do Rio Grande não estarem
nem um pouco interessados em participar do clubinho dos donos do gauchismo.
Se o MTG realmente
tiver interesse em proteger as tradições do Rio Grande precisa reinventar-se
já. Precisa apresentar a história gaúcha sob o ponto de vista do pan-gauchismo
(o surgimento, a evolução e a influência mútua dos gaúchos no Rio Grande, no
Uruguai, na Argentina e nas regiões lindeiras), precisa ver o gaúcho como uma
etnia viva - e não como um ser do passado - e precisa abrir o seu clubinho a
todas as classes e grupos do Rio Grande. Se não fizer assim, como faz a ONG RS
livre (www.rslivre.com), o próprio MTG cravará a adaga que matará o
gaúcho."
PIRES, Felipe
Simões
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