República Rio-Grandense
terça-feira, outubro 15, 2013
A República Rio-Grandense, também conhecida como República de
Piratini, foi um Estado-nação não reconhecido formado no extremo sul do Império
do Brasil, em território equivalente ao atual estado do Rio Grande do Sul. O
período constituiu sendo a mais longa revolta brasileira da história. Foi
proclamada em 11 de setembro de 1836, pelo general Antônio de Sousa Neto, como
consequência direta da vitória obtida por forças oligárquicas gaúchas na
Batalha do Seival (1836), durante a Revolução Farroupilha (1835-1845). No
entanto, o objetivo principal nunca foi proclamar um estado-nação próprio, e,
portanto, separado do Estado brasileiro, mas sim mostrar ao Império do Brasil
que as oligarquias gaúchas não estavam nem um pouco satisfeitas com os altos
impostos.
A Revolução Farroupilha, também chamada de Guerra dos
Farrapos, deflagrou-se no Rio Grande do Sul e foi a mais longa revolta
brasileira da qual se tem conhecimento – ela durou dez anos (1835 a 1845). As
dificuldades econômicas que as camadas dominantes da época passaram a enfrentar
estão entre as principais causas da Revolução. A economia do Rio Grande do Sul
era focada na criação de gado e a sobrevivência deste povo baseava-se na
cultura do charque, mais conhecido como carne seca fora do Sul.
O comércio do charque era realizado com as várias comarcas
brasileiras – São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e região nordeste -, pois
era fonte de alimentação dos escravos.
Durante o governo imperial, os produtores gaúchos, donos das
fazendas de gado, revoltaram-se contra o governo, condescendente com a
concorrência desleal que passaram a sofrer quando da entrada de carne seca do
Uruguai e da Argentina – ela entrava no país pagando taxas bem menores e, consequentemente,
podia vender seu produto a preços bem mais acessíveis para as províncias acima
citadas. Assim, a economia gaúcha começou a entrar em declínio.
Os poderosos estancieiros passaram a acreditar que o governo
imperial fosse encontrar um meio de resguardar a pecuária do Rio Grande do Sul,
encarecendo as taxas de importação da carne seca argentina e uruguaia quando da
entrada no Brasil.
Essa mesma fina flor de grandes estancieiros também batalhava
junto ao governo imperial por uma maior liberdade administrativa para o Rio
Grande do Sul.
No ano de 1834, o governo instituiu novos impostos para a
comarca gaúcha, o que acabou provocando o início da rebelião que culminou, em
1836, na proclamação da República Rio Grandense, com capital na cidade de
Piratini.
A presidência da nova República ficou a cargo de Bento
Gonçalves. Esperavam os revolucionários que seu exemplo fosse seguido pelas
outras províncias, provocando assim a queda do regime imperial, o que
infelizmente não ocorreu. A paz nesta região só teve início em 1842, quando
Luís Alves de Lima e Silva, o Barão de Caxias, tornou-se presidente do Rio
Grande do Sul e tomou a iniciativa de estabelecer uma concórdia com os
estancieiros.
A bandeira oficial da República Rio-Grandense era composta
pelas cores verde, amarelo e vermelho. Há duas versões para o motivo da
composição da bandeira: uma versão explica que seriam as cores-símbolos do
Brasil, o verde-amarelo, com o vermelho, que simboliza a república,
entrecortando as mesmas; outra versão explica que o verde representava a mata
dos pampas, o vermelho o ideal revolucionário, e o amarelo as riquezas do
território gaúcho; e outra versão diz tratar-se o verde da bandeira portuguesa
e o amarelo da bandeira espanhola (respectivamente, o mais importante
colonizador e o segundo mais importante colonizador do território do estado do
Rio Grande do Sul), entrecortados pela listra vermelha em vertical que seria
símbolo de federação na região platina desde a época de José Gervásio Artigas
(1764-1850). No entanto, o verde só seria adicionado à bandeira portuguesa em
1910, 65 anos depois do término da Revolução Farroupilha, o que descarta esta
última versão. Da mesma forma, a atual bandeira do estado do Rio Grande do Sul
vem a ter as mesmas cores, tendo sido adicionado o brasão da República
Rio-Grandense no meio da bandeira.
Os principais líderes sul-rio-grandenses eram estancieiros,
que estavam insatisfeitos com os altos impostos sobre o charque e o couro, de
modo que os mesmos produtos estrangeiros fossem mais baratos que os nacionais.
A Constituição da República Rio-grandense foi aprovada em 1843, em Alegrete. No
entanto, as oligarquias gaúchas se consideravam brasileiras, ainda que tivessem
se rebelado por essa disparidade econômica. O mesmo acontecia com a população
do Rio Grande do Sul, que também se considerava brasileira, ainda que tenham
sido convencidos a lutar em favor dos estancieiros gaúchos, em função dos altos
impostos sobre o charque e o couro, que prejudicavam diversos setores da
economia local. Entre as principais cidades da então Província de São Pedro do
Rio Grande do Sul que não aderiram aos revoltosos, está Porto Alegre, que por
esse motivo recebeu do Império o título de "Leal e Valerosa Cidade de
Porto Alegre", seu lema oficial até hoje.
A paz foi assinada em 1845, com a libertação dos escravos que
participaram das batalhas, bem como a transferência das terras apreendidas para
os fazendeiros locais.
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